Helena Roseta
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FMI alerta para risco de bolhas imobiliárias em Portugal
20-07-2018 DN, edição do dia
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Em menos de um mês, dois avisos sérios. Há sinais de que estão a acumular-se "desequilíbrios" relevantes em "algumas áreas" do mercado imobiliário em Portugal, alertou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI). Há pouco mais de um mês tinha sido o Banco de Portugal (BdP) a dizer que "na segunda metade de 2017 começaram a existir sinais de alguma sobrevalorização dos preços" das casas.

Na avaliação anual à zona euro (Artigo IV), ontem divulgada, o FMI repara que "existem vulnerabilidades financeiras que podem estar a emergir em determinadas bolsas", em certas regiões. "Há sítios - por exemplo, Luxemburgo, algumas cidades alemãs, algumas áreas em Portugal e na Holanda - onde os desequilíbrios entre a procura e a oferta estão a levar a uma forte valorização do imobiliário residencial habitação ou comercial", alerta o fundo dirigido por Christine Lagarde.

Sem se alongar muito mais sobre o tema, o FMI chama a atenção para o facto de este problema latente ser tanto mais ameaçador quanto maior for o endividamento privado. É que num contexto de subida das taxas de juro, como já se perfila no horizonte (no final do ano isso já poderá estar a ser sentido), estes desequilíbrios podem conduzir a ruturas. O valor do imobiliário pode cair e os juros sobem, deixando em apuros os devedores de empréstimos.

A missão do FMI que esteve em Portugal na segunda quinzena de maio deixou recados bastante concretos relativamente ao problema. O país precisa de crescer e muito para conseguir reduzir "as vulnerabilidades decorrentes do elevado endividamento público e privado".

Disse também que "o aumento do preço das casas deve continuar a ser monitorizado, tendo em conta a importância peso das hipotecas nos balanços dos bancos".

Em dezembro, o Banco de Portugal dizia que não via sinais preocupantes de que isto estivesse a acontecer, mas, com os novos dados que lhe foram chegando, mudou de opinião.

No início de junho, avisou que "na segunda metade de 2017 começaram a existir sinais de alguma sobrevalorização dos preços do mercado imobiliário residencial em Portugal".

Essa sobrevalorização era ainda "ligeira" em termos agregados, mas olhando para partes do mercado o fenómeno já levanta algumas preocupações.

"Ainda que as indicações de sobrevalorização dos preços no mercado imobiliário residencial em termos agregados sejam muito limitadas, a duração e o ritmo de crescimento dos preços neste mercado (aumentos de 32% e de 27% em termos nominais e reais, respetivamente, desde o segundo trimestre de 2013) podem implicar riscos para a estabilidade financeira, em caso de persistência destas dinâmicas.

Referiu ainda que o fenómeno de ebulição em alguns segmentos do mercado de habitação estará a refletir "o forte aumento do turismo e da procura por parte de não residentes" que procuram esses ativos de maior rendibilidade em alternativa a depósitos ou outras aplicações menos interessantes em termos de remuneração.

No entanto, tudo isto acontece quando a zona euro está, supostamente, prestes a infletir o rumo das suas taxas de juro, hoje coladas a zero.