Helena Roseta
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Artigo no Pùblico
Senhora Procuradora, dê a cara
09-11-2023

Ao início do dia 7 de novembro, Portugal tinha um governo de maioria absoluta. Horas depois, o primeiro-ministro demitiu-se e o país assistiu perplexo à primeira queda de governo motivada por um parágrafo do comunicado do gabinete de imprensa da Procuradoria Geral da República.

Diz esse parágrafo que, “no decurso das investigações” sobre três grandes investimentos (a exploração de lítio em Trás-os-Montes, a produção de hidrogénio verde em Sines e a construção de um grande “data center”, também em Sines), “surgiu, além do mais, o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do Primeiro-Ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos”.

Chamado a Belém, António Costa demitiu-se e pouco depois explicou aos portugueses porquê. Fê-lo com clareza, segurança e dignidade. Fez o que tinha a fazer.

Cabe agora ao Presidente da República tomar decisões sobre o que vai seguir-se e falar aos portugueses. Esperemos que o faça com a ponderação que se impõe. E que os partidos políticos estejam à altura das suas responsabilidades.

A senhora Procuradora também foi chamada a Belém antes do anúncio da demissão do primeiro-ministro. Apesar da vertiginosa sucessão de acontecimentos desse dia, não tivemos da parte dela nem uma palavra de esclarecimento.

Sempre acreditei que quem detém um cargo público tem o dever de assumir as suas decisões, sem cobardia nem silêncios sobranceiros.

Há uma incompreensível desproporção entre o obscuro comunicado do gabinete de imprensa e a dimensão da crise que estamos a viver. Só tenho uma palavra a dizer: Senhora Procuradora, dê a cara.